30 abril 2007

Serralves "em chamas" (ou será em festa?)

NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA E EM 1º MÃO

2 e 3 de Junho: FILASTINE em Serralves (Porto)

(1ª nota: os Filisteus foram um dos povos que habitaram a Palestina, antes da conquista do território pelos Hebreus. Existem, no entanto, dicionários “iluminados” que definem “filisteu” como alguém “materialista, com desprezo por valores intelectuais ou artísticos”…)

Traduzindo “à letra” a apresentação que faz de si próprio, Filastine é um «especialista em som castanho contra-hegemónico, único “laptopista” ludita do mundo, com a missão de “queimar” o “sinal” a certa malta, através do ruído».

(2ª nota: os “luditas” foram um grupo de operários que, no séc. 19 e na sequência da então recém-iniciada Revolução Industrial, armava motins com o objectivo de destruir tudo o que fosse máquinas)

O rapazinho aqui em cima é produtor, dj (a solo, ou “a meias” no Sonar Calibrado Sound System, com o vizinho de Seattle, Maga Bo, já aqui referido numa das últimas “postas”) e percussionista dos Nettle (um “diálogo” iniciado por Dj/Rupture em 1999, envolvendo “dirty electricity”, Violoncelo, Oud e Violino árabes e as percussões “filisteias”.

Residente em Seattle durante anos (e aparentemente criado em Oklahoma), activista político e anarquista “encartado” (com detenções no currículo), ex-membro da secção rítmica num “bando” experimental de “Roque tribal” anti-globalização (os Tchkung!), Grey “Filastine” fundou ainda uma indy label (Post World Industries) e uma “banda larga” de originais anarco-marchantes, entretanto extinta (a Infernal Noise Brigade), que entre várias técnicas de insurreição urbana (como esta), usava e abusava de quantidades massivas de som e ruídos à volta de um edifício, por exemplo, para impedir ou chatear o normal funcionamento laboral no interior do alvo “cercado” ou para dificultar a realização de reuniões dos “geradores e gestores de pobreza” da Organização Mundial do Comércio e do G8.

As “más influências” deste “atentado à (e)terna insegurança dos estados unidos da amérdica”, vão do smarty HipHop a bandas de metais ciganas, melodias e ritmos do Norte de África, Grime, Ragga, D’n’B, Breakcore, Baile Funk distorcido, Glitch, Batucada, Dubstep “pretensioso”, Noise, Situacionistas, Luditas, “Hashishem”, acabando no essencial que são as ruas.

(3ª nota: os “hashishem” ou “haschichiyn”, “seita” islâmica dissidente, criada no séc. 11, é a percursora dos actuais “kamikazis” que se fazem rebentar com explosivos. Há quem diga que fumavam haxixe antes de cometerem o suicídio & homicídios… tadinho do haxixe... as maldades que ele provocava. Em português, a "seita" ficou conhecida por “Ordem dos Assassinos”, afirmando-se mesmo que a palavra “assassino” poderá ter tido origem nesses "malfeitores"…)

...

Viajante compulsivo, hóspede de ex-guerrilheiros (em El Salvador) e de zapatistas activos (no México), este “cidadão do mundo” passou cerca de 2 anos no continente asiático (Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka).

Aprendeu a tocar tablas com o mestre indiano Zakir Hussain, partilhou largos momentos com a ancestral família de músicos marroquinos Masters Musicians of Jajouka (nas montanhas do Rif) e “esgravatou” passado e presente de muita música brasileira.

São gaitas marroquinas (as “rhaitas”) iguais às tocadas pelos mestres Jajoukas, as que se ouvem no início de “Judas Goat”, single de apresentação de Filastine, gravado a 3 tempos (entre Marrocos, Rio de Janeiro e Seatlle) e editado no “maravilhoso submundo” da Soot Records de DJ/Rupture (e já agora adicionado à colecção Farward Outono/nverno 2004, na mesma noite em que dj/Rupture actuou na ZDB, em Novembro desse ano).

Em constantemente quebrada batida HipHop e linha de contrabaixo sintetizada, “Judas Goat” é percorrido não só pelas “gaitas” (que neste caso até nem são as dos Jajouka’s, mas outras captadas numa praça em Marrakech – momento registado nesta foto), mas também por percussões árabes e “samplagem” diversa.

Um ainda mais relaxado Hop beat (sem Hip nem Hype), “adubado” com “sopros” ciganos, cordas arábicas e uma afrancesada voz feminina, resumem “Palmares”, lado B de “Judas Goat”.

“Judas Goat" & “Palmares” streamups

Decifrada a primeira e breve mensagem, foi preciso esperar até 2006 para receber mais instruções: “Burn it”, álbum nº1 de Filastine (também "chamuscado" na Soot Records) é uma "fogueira" de múltiplos padrões rítmicos, statements políticos “Coreanos” (quer dizer, “à maneira Core” e não “à maneira da Coreia”), vozes deste e doutros mundos, MC’s desconhecidos mas bem calibrados (das Caraíbas, América do Sul e Norte de África), quilos de sampladagem de toda a espécie, instrumentos da mais diversa origem, gravações feitas em ruas do Rio, Havana, Marrocos e Índia… tudo isto, por cima ou por baixo de breakbeats de Hiphop, “sem pressas” e mais estaladiços que água a pingar numa frigideira com óleo a ferver...

Além das texturas “arabescas”, incluindo as de “Judas Goat” e “Palmares” (temas também presentes no álbum), as principais “sugestões do chefe Farward” vão para o incendiário “Quemalo ya” (um Ragga/Dancehall oriental[ado}, gravado num telhado brasileiro e cantado em espanhol por Ras Mario & Timedo Flow), para “Last redoubt” (com o rapanço, também em “espanholês”, do cubano Randee Akosta) e para a desenfreada Batucada à brasileira “Dance of the Garbageman”.

Para que não fiquem dúvidas, este é um dos poucos álbuns a “estal(ad)ar” há meses num leitor de mp3 que só eu sei...

Se tiveres vontade de apanhar cada uma das “16 queimadelas do 1º grau” de “Burn it”, mete as orelhas aqui ou aqui (e neste caso, carrega depois em pre-listen).

Ainda a propósito do tema “Quémalo ya”, há uma nova edição na Shockout com uma versão instrumental de Filastine e outra de dj/Rupture - aqui..

No “Entubas”, podes ver parte duma experiência entre Filastine e os rappers Rabah (argelino) e Beni (venezuelano), baseada no ”Quemalo” riddim, mas com outro título (“Nuestros sueños”) e realizada em Novembro passado, num quarto apertado com vista sobre Barcelona. Watch in.

Ainda na secção “videonária”, há 4 minutos e meio (de boa qualidade) gravados ao vivo num spot em São Francisco, mais 1/2 minuto dum estridente raggamuffin “passado a ferro“ numa sala de Barcelona (chama-se “Mic Diplomat”, é debitado pelo jamaicano Mr. Lee G e produzido pelo canadiano do Quebec Ghislain Poirier, habitual companheiro de palcos e estúdio das famílias Soot e Shockout).

...

Depois das orelhas a arder, nem tentes fugir agora de “La Pistola mas rapida”, a mortífera mix “rebenta-pistas”, gravada por Filastine para o “Blentwellpodcast (onde já entraram DJ C e Maga Bo).

“Blentwell nº7”, selecção e mistura de “Ragga & HipHop goes Middle East 2 meet some bang(in) trickery from a LBL (Laptop Beat Laden)”, recomenda-se esmagadoramente (e com a ajuda desta “traque-lista”).

Mais recentemente (na realidade, há menos de 15 dias) começou a circular (e nalgumas lojas “em linha” até já esgotou), o último “manual da audio-guerrilha”.

Aprovado pela Violent Turd (mais uma “sombra” de Kid606, disfarçada de editora neozelandesa), “Shotgun Wedding – Volume 6” é um CD-mix ao quadrado, a dividir por meia hora de dj/Rupture (designada como “Secret Google cheat codes”) e outra meia de Filastine (chamada “The Mud, The Blood, And The Beer: A Fistfight With The Near East”).

Ainda sem links disponíveis para grandes audições (excepto pequenas amostras, aqui e aqui), pode-se ficar com uma ideia (por escrito) do que lá vem, indo à fonte Tigerbeat6/Violent Turd, ou no caso de Filastine, citando-o directamente: “My half is focused on romany (gypsy) brass, turkish hiphop, and other material from that part of the world versus many mangled beat production”.

O prémio final para os que tiveram a paciência de chegar até aqui, é a possibilidade de ouvir os 50 minutos (todos) da actuação de Filastine no lançamento de “Burn it”, durante uma party da Soot Records realizada no Gramaphone (Londres), em Junho de 2006.

E agora sim… o FIM (ou quase)

...

Se queres aprender o “b-a-ba” do “terrorismo filisteu", toma lá nota:

2 e 3 de Junho.

FILASTINE em Serralves (em Festa).

(e nós lá no meio... a rebentá-las)

2 Comments:

At 10:18 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Grande post!

O Filastine é um grande senhor. Já o vi ao vivo e rockou muito, muito!

Obrigado pela notícia!

Já agora, só vai mesmo ao Porto?

 
At 1:31 da tarde, Blogger farward said...

parece que só vai mesmo ao porto.
alias, como toca no dia 1 (6ª) em Marrocos e nos dias 2 e 3 no Porto, não tou a ver ninguem chegar-se à frente para o trazer a outro sítio numa 2ª feira...
sendo assim, burn it serralves burn it!

 

Enviar um comentário

<< Home